A primeira ferida que tive no pé, esquerdo, foi aos 22 anos. Lembro que consultei um médico vascular, indicado por algum outro que já tratava de mim e da Bete, e passei um ano frequentando o consultório dele, semanalmente, até que finalmente ela cicatrizou.

Depois de alguns anos, usando uma bota de cano longo, machuquei o tornozelo e a ferida que lá surgiu, cada dia parecia pior, por mais que eu cuidasse. Ao conversar com o meu endócrino, este prescreveu sessões de câmera hiperbárica, que até então eu não conhecia. Que maravilha este procedimento! Você entra com o seu corpo todo dentro de um tubo transparente, onde é submetido a uma pressão 2 a 3 vezes a pressão atmosférica (a sensação é como se estivesse num avião) e por aproximadamente 1 hora, respira oxigênio puro que consegue chegar às extremidades (áreas periféricas), facilitando a cicatrização… no meu caso, as feridas crônicas. Detalhe: você pode escutar musica ou assistir a TV durante a sessão.

Mas esta complicação não surgiu do “nada”, afinal quando fui apresentada a Bete, nos anos 80, o tratamento da DM tipo 1 era muito diferente do que é hoje. O índice de hemoglobina glicada aceitável para os pacientes era de 13 % sendo que nos dias atuais os valores de referencia são de 6 a 6,5% em pessoas portadoras desta condição.

Para se ter ideia do que estou falando, nesta época não existia nada dietético. Meu pai conhecia um comandante da Vasp que trazia diet coke para mim, e lá ia eu com ela a tiracolo para as festinhas me achando o máximo! Outro ponto importante: nunca tive vergonha em dizer para as pessoas que eu era diabética e isso me abriu portas para muitas coisas; para rever conceitos;  me proporcionou enxergar um novo mundo, experimentar novas descobertas, tendo a certeza de que não existe limites para ser feliz! É nossa opção fazer com que isso aconteça.

Há pouco menos de um mês dei uma entrevista ao Portal da UOL, página Viva Bem (https://vivabem.uol.com.br/noticias/redacao/2018/07/17/quase-tive-o-pe-amputado-por-causa-de-uma-ferida-de-diabetes.htm ), relatando problemas que tive com uma ferida que negligenciei, quando estava grávida de 4 meses da minha primeira filha, a Duda ( por inúmeros motivos que detalharei em outro momento). Fui convidada a dar este depoimento pessoal por uma médica vascular que tem um projeto interessante  sobre “Feridas que não cicatrizam” e que é um alerta e um apelo para que as pessoas que convivem com a Bete como eu, deem voz a sua condição e procurem tratamento. Não sei porque, mas a maioria dos diabéticos não se assume e desta forma não se cuidam, pois ao negarem a existência da Bete, não procuram o tratamento adequado,  o que traria uma vida muito mais saudável.

O meu relato serve para mostrar que as feridas, em pé diabético, nem sempre se apresentam como na realidade são. Para quem olha de fora, parecem ser pequenas, sem muita importância, dando a sensação de que com o tempo e alguns cuidados, ela desaparecerá. Mas não se engane! Quem convive com a Bete diariamente, precisa ter cuidado e dar ainda mais atenção a qualquer sinal do corpo de que algo está errado!